O que é
A obesidade é estratificada a partir do cálculo do índice de massa corporal (IMC). Através do peso e altura classificamos o paciente com obesidade grau I quando IMC > 30kg/m². Obesidade grau II quando IMC > 35kg/m².
Por fim, obesidade grau III, ou mórbida, quando IMC > 40KG/m².
A síndrome metabólica é o conjunto de doenças associadas à obesidade que possuem como fator comum a resistência à insulina: Hipertensão, dislipidemia (alterações de colesterol e triglicerídeos), obesidade visceral (órgãos internos) e diabetes.
Quem é Candidato ao Procedimento
A cirurgia da obesidade é indicada para pacientes com IMC > 35kg/m² com comorbidades associadas ou com IMC > 40kg/m².
Importante ressaltar que, segundo nova resolução da ANS de dezembro de 2017, o paciente deve ter comprovado histórico de pelo menos 5 anos deste peso e tratamento clínico por pelo menos 2 anos.
A cirurgia é contraindicada para pacientes com doenças psiquiátricas graves e descompensadas e naqueles com uso abusivo de drogas ilícitas ou álcool.
A Cirurgia Bariátrica - Evolução e Técnicas Modernas
A primeira cirurgia bariátrica data da década de 50, porém apenas na década de 80 que o método foi realmente desenvolvido de maneira efetiva, utilizando técnicas de gastrectomia (retirada do estômago) com uso de bandas para restrição alimentar. Essas técnicas eram realizadas no método chamado de convencional ou aberto, nos quais grandes incisões eram feitas no abdômen.
A primeira descrição de cirurgia bariátrica por videolaparoscopia foi em 1993, executada por Wittgrove e Clark, realizando a técnica de bypass gástrico. No Brasil, foi realizada em 1998 por Garrido e Szego. A videolaparoscopia permitiu incisões infinitamente menores, com menor dor e recuperação mais rápida para o paciente. Além disso, os índices de infecção, hérnias em incisão e outras comorbidades diminuíram consideravelmente.
No Brasil, hoje, são permitidas 4 técnicas de cirurgia bariátrica: o bypass gástrico, banda gástrica ajustável, gastrectomia vertical (sleeve) e switch duodenal:
Bypass
Técnica estabelecida há mais de 20 anos, tem componente restritivo e disabsortivo, oferecendo ótimo controle do diabetes. Tem como característica a formação de um novo e pequeno estômago e um desvio de intestino. A ideia é oferecer saciedade precoce e menor absorção dos alimentos. Excelente resultado no controle do diabetes e síndrome metabólica. A cirurgia dura, em média, 2h e o paciente tem um período de, em média, 3 dias de internação, podendo em 10 a 14 dias retornar as suas atividades laborais.
Sleeve
Técnica mais nova, mas já feita há cerca de 12-15 anos no mundo. Nos EUA, já é a técnica mais realizada para tratamento da obesidade. No Brasil, estamos chegando nesse ponto, também. Consiste na retirada de grande parte do estômago, inclusive a região que produz o hormônio grelina, que dá sensação de fome. Tem como vantagens não mexer no intestino e ser mais rápida: cerca de 1h de procedimento.
Switch Duodenal
Cirurgia com característica mais disabsortiva que o bypass, ou seja, há mais desvio do intestino + a técnica do sleeve. Indicada para casos refratários de obesidade, no entanto tem mais riscos e seu acompanhamento nutricional no pós deve ser bastante rigoroso para evitar desnutrições. Criada em 1978, corresponde a 5% dos procedimentos realizados hoje no país.
Banda Gástrica Ajustável
Criada em 1984 e trazida para o Brasil em 1996, representa menos de 1% das técnicas perfomadas e, está, praticamente, abandonada. Coloca-se um anel de silicone inflável ao redor do estômago, controlando seu esvaziamento.
Cirurgia Robótica
A cirurgia robótica já é realidade em muitos centros do nosso país. O robô permite a visão em 3D e replica totalmente o movimento da mão do ser humano, tornando o procedimento mais preciso. O software consegue eliminar os tremores do cirurgião e minimiza erros de movimento.
Desde o ano 2000 a técnica já é usada nos EUA, porém apenas recentemente ela está sendo replicada no Brasil. Existem fatores limitantes ainda por ser uma tecnologia cara e pouco difundida até então.
Perspectivas do futuro são as chamadas cirurgias 4.0, nas quais o robô fica completamente conectado à internet, podendo ganhar conhecimentos e destrezas. Softwares em smartphones e mais acessíveis a todos envolvidos.
Pré-Operatório
A todos pacientes são fornecidas orientações básicas de pré-operatório. Entre elas, destacam-se:
- Realizar a dieta líquida pré-operatória indicada pelo nutricionista;
- Aplicar anticoagulante quando indicado pelo seu médico;
- Respeitar o Jejum total de 8 horas;
- Jejum da água é de 2 horas - não deixar de tomar medicações de uso frequente, orientado pelo seu médico;
- Não tomar no dia da cirurgia medicações como hipoglicemiantes orais (para diabetes) e insulina devido ao jejum prolongado;
- Suspender o uso de AAS 5 dias antes, quando fizer uso;
- Levar sempre os exames ao hospital;
Pós-Operatório
- Seguir rigorosamente a dieta do nutricionista;
- Tomar bastante água;
- Aplicar anticoagulante quando indicado;
- Repouso: evite ficar muito tempo deitado ou sentado. Procure andar várias vezes ao dia.
- Respire fundo 3 vezes a cada hora para expandir melhor o seu pulmão e evitar complicações, como febre e pneumonia.
- Nos primeiros dias, evitar de fazer esforço físico excessivo pois poderá sentir algum desconforto maior e colocar sua cirurgia em risco.
- Pode caminhar normalmente e dirigir seu veículo quando sentir-se seguro, normalmente após a primeira semana.
- Não pratique esportes ou levante peso maior do que 5 kilos até 45 dias após a cirurgia;
- Curativos: o corte será fechado com pontos e cobertos com curativo (micropore). É comum que ocorra hematoma ("azulado" ou "roxo") ou pequenos sangramentos. Isto é normal. Não se preocupe. Pode tomar banho completo e molhar o curativo. Seque o abdome normalmente com toalha, sem necessidade de cuidados especiais com os cortes. Entretanto, se o corte tiver aparência de infecção (vermelho, com secreção de pus ou com cheiro forte), informe o seu médico;
- Atentar para a revisão com seu médico;
- Não hesite em ligar e sanar dúvidas eventuais.
Quais os Resultados Esperados
A cirurgia bariátrica deve ser encarada como uma ferramenta poderosa na qual o paciente vai buscar a sua perda de peso e a mudança nos seus hábitos de vida. Fala-se aqui na perda de excesso de peso. A cirurgia bariátrica, em média, deve promover uma perda de 70-80% do excesso de peso do paciente.
Quando a perda do excesso do peso é menor que 50%, a cirurgia não se mostrou benéfica. E aqui não falamos do ato cirúrgico em si, mas de todos fatores envolvidos, como dedicação e comprometimento do paciente com as recomendações médicas, nutricionais, psicológicas, etc.
O emagrecimento se dá de maneira muito intensa nos primeiros 6 meses e, após, segue em ritmo lento até cessar por volta dos 18 meses.
Entenda os Riscos
Todo e qualquer procedimento cirúrgico tem riscos. Na cirurgia bariátrica não é diferente. Apesar de seu índice de complicação global ser muito baixo, em torno de 2-5% dependendo de estudos, várias complicações estão implicadas.
Dentre as mais comuns temos os sangramentos, fístulas (vazamentos), estreitamentos do intestino, aderências, abscessos, infecção, tromboses venosas em pernas, abdômen, pulmão e pneumonias. Hoje, a mortalidade do procedimento, gira em torno de 0,5%.
Quais os Custos Envolvidos e Covertura dos Planos de Saúde
Todo paciente deve passar por uma avaliação multidisciplinar, ou seja, acompanhamento de nutricionista, psicólogo, médicos clínicos, endocrinologistas, cardiologistas e o cirurgião. Tais requisitos, além de extremamente importantes para o processo no sentido de dar segurança e confiança ao paciente, é exigido por lei do Ministério da Saúde.
Cada paciente deve se informar sobre seu plano de saúde e sua cobertura quanto a estes profissionais. Normalmente, as consultas de nutricionista e psicologia os planos não oferecem cobertura e os pacientes arcam com estas despesas. As demais, devem ser incluídas no plano de saúde.
O procedimento cirúrgico por videolaparoscopia está incluído no ROL da ANS e, portanto, é coberto pelos planos de saúde.
10 Coisas que Você Precisa Saber Sobre Cirurgia Bariátrica
- O paciente pode voltar a ganhar peso após a cirurgia se não adquirir hábitos saudáveis e não seguir corretamente as orientações da equipe multidisciplinar.
- As mulheres podem engravidar após a cirurgia bariátrica. No entanto, recomenda-se que espere de 15 a 18 meses para tal.
- Alguns pacientes podem desenvolver intolerância a certos alimentos, principalmente leite e derivados e proteínas de origem animal.
- Nem todos pacientes precisarão de cirurgia plástica após a cirurgia bariátrica. O excesso de pele depende do quanto de peso foi perdido, da massa muscular do paciente e do seu hábito alimentar.
- Todo paciente após a cirurgia bariátrica precisa de suplementação com vitaminas. O tempo do seu uso depende da ingesta de alimentos saudáveis com alto valor nutritivo.
- O apoio da família é fundamental no processo da cirurgia bariátrica. Família que come junto, engorda ou emagrece junto.
- A perda de cabelo e as unhas quebradiças são uma realidade no pós-operatório da cirurgia bariátrica. Ocorre mais frequentemente ao redor do 3 mês após o procedimento. Com alimentação saudável, cessa e é autolimitada.
- A cirurgia bariátrica pode promover melhora significante de algumas doenças associadas a obesidade, como pressão alta, diabetes, gordura no fígado e dores articulares.
- Hoje a chance de morrer por causa da cirurgia bariátrica é muito menor do que a chance de morrer vivendo com a obesidade em níveis elevados e com suas doenças associadas.
- A obesidade é uma doença crônica, ou seja, sem cura. O paciente deve ser eternamente vigilante em relação ao seu peso e aos hábitos de vida.